O que é o CIT

Jean-Yves Leloup

Gostaria de lembrar que o CIT não é uma instituição, mas uma inspiração; e também não é uma empresa. De acordo com Fílon de Alexandria, o CIT é, sobretudo, uma “escola de sabedoria” ou uma “escola de contemplação”, que recapitula e sintetiza as quatro grandes escolas de sabedoria da antiguidade: 1) o jardim de Epicuro; 2) o estoicismo de Zenon[i]; 3) a Academia de Platão; e 4) o liceu de Aristóteles.

Se o CIT não é uma instituição nem uma empresa, não se deveria entrar nele como em uma instituição ou uma empresa, apresentando curriculum, exame de qualificação, etc., mas como em uma escola de sabedoria, pelo jejum, pela metanoia (teshuvá[ii]) e outros elementos do que na antiguidade se caracterizava uma “iniciação”.

Se o CIT não é nem uma instituição nem uma empresa, não deveria ser gerenciado como uma instituição ou uma empresa com hierarquia de poderes,  controle, comitês ou sindicatos, etc., mas como “escola de sabedoria”, pela prática e pela fidelidade às 10 Orientações, que sintetizam a inspiração primordial dos Terapeutas, qual seja, manter um laço indestrutível e puro com a Fonte do seu ser e de todos os seres, para seu próprio bem e para o bem de todos.

É evidente que os Terapeutas que, a cada dia, dedicam um tempo maior à meditação e ao estudo, e que permanecem no espírito de Fílon de Alexandria – uma antropologia que é também uma ecologia e uma ontologia, vivem uma transformação interior que diferenciará o seu comportamento “daqueles que na cidade têm sua corte”.

Sua “superioridade” não se deve a um acréscimo de inteligência ou do poder que lhe seria devido, mas a uma humildade em relação “ao que neles é maior que eles”, mais inteligente e mais amoroso que eles. Essa humildade ou essa humanidade os tornará capazes de “cuidar” da terra e daqueles que nela vivem, com a leveza e a paciência daqueles que se consideram “servidores inúteis”.

Uma “escola de sabedoria” não tem por finalidade distribuir diplomas ou patentes certificando uma competência técnica nos diferentes domínios exercidos pelos seus membros, mas ela convida a um aperfeiçoamento, renovado sem cessar, das qualidades do coração e do espírito que os tornam autênticos Terapeutas – pessoas que encarnam em sua prática, e em seu quotidiano, o espírito das 10 Orientações.

A fraternidade dos Terapeutas não é nem uma fraternidade virtual nem uma fraternidade mundana e nem uma fraternidade política ou religiosa, mas é uma fraternidade essencial e silenciosa. Além das afinidades emocionais, intelectuais e afetivas, ela é a partilha de um desejo profundo de unidade com a Fonte de todos os seres, “o silêncio obscuro e luminoso” que Fílon chama YHWH, “o Ser que é Aquele que é”, “Ele tem todos os Nomes e nenhum Nome pode nomeá-lo”. Dessa unidade e integração decorrem todos os bens, “tudo o mais nos é doado por acréscimo”, saúde, harmonia, serena sobriedade e bem-aventurança: Shalom.

Partage, Julho de 2011.

[i] “La stoa de Zenon”: Chamava-se stoa o pórtico pintado da ágora de Atenas, onde Zenon costumava dar lições ao público. O nome de sua escola, estoicismo, deriva de stoa.

[ii] Teshuva no judaísmo significa arrependimento.

Dez Orientações

As Dez Orientações maiores unem os participantes CIT. São orientações sobre antropologia, ética, silêncio, estudo, generosidade, reciclagem, reconhecimento, anamnese essencial, despertar da presença e fraternidade:

  1. Antropologia holística, que é também uma ontologia e cosmologia, implicando no reconhecimento da tríplice condição existencial, físico-psíquico-consciencial, atravessada pelo mistério do Ser.
  2. Ética da benção e do respeito à inteireza, jamais reduzindo o ser humano a um rótulo, também cuidando, nele, daquilo que não é doente, a partir do qual uma dinâmica de cura é ativada.
  3. Prática diária meditativa do silêncio, visando a centralidade e abertura à transcendência.
  4. Prática diária do estudo dos textos contemporâneos e os da sabedoria perene, visando uma permanente atualização.
  5. Prática diária da gratuidade, para o exercício da solidariedade, do serviço desapegado ao outro, à sociedade, ao universo.
  6. Reciclagem, um compromisso de vivenciar, anualmente, um tempo-espaço de recolhimento para uma revisão, reflexiva e meditativa, do processo de individuação.
  7. Reconhecimento da necessidade de ser acompanhado por uma escuta terapêutica, evitando o risco da inflação egóica do julgar-se pronto, estancando o processo contínuo de aprendizagem e aperfeiçoamento.
  8. Anamnese Essencial, através de registros sistemáticos das vivências, no estado de vigília e no onírico, que evidenciam a presença numinosa do Ser, na existência cotidiana.
  9. O Despertar da Presença, a tarefa de lembrar o que realmente somos, o Ser que nos funda e informa, através da respiração, da invocação, ou da atenção plena ao instante.
  10. A fraternidade, através de um ritmo de encontros para a sinergia, o estudo partilhado, a comunhão meditativa.

 “Antigos e Novos Terapeutas”

Por Roberto Crema

Meditação Hesicaste

Oração do Coração: a via do peregrino

Por Jean-Yves Leloup

Meditação e Contemplação Cristãs, segundo os ensinamentos do Pai Serafim do Monte Athos

Meditar como uma montanha

O primeiro conselho que se pode dar a quem vem meditar não é de ordem espiritual, mas sim, física: – Sente-se.

Meditar como uma papoula do campo

Aprenda a florescer, mas também a murchar. 

Meditar sem objetivo nem lucro, pelo prazer de ser e de amar na luz.

Meditar como o oceano

Eu me deixo levar pelo sopro como nos deixamos levar pelas ondas.

Meditar como um pássaro

Meditar com a garganta, não somente para acolher o sopro.

Mas, também, para murmurar o nome de Deus, dia e noite.

Meditar como Abraão

Meditar como Abraão é viver na Presença.

Uma meditação “que tem um coração”.

Meditar como Jesus

Compartilhar o seu sopro, seu espírito.

Amar como Ele ama. 

A Via do Peregrino não se opõe às preocupações sociais e ao desejo de justiça do ser humano.

Ela lembra, apenas, que uma mudança da sociedade sem uma mudança do coração humano está votada, mais dia menos dia, ao fracasso.

E o coração do ser humano só pode mudar se ele se sentir amado, pelo menos uma vez infinitamente amado, e se ele consentir nesse Amor que pode libertá-lo de sua vaidade e de sua vontade de poder, porque encontrou seu peso de Luz. 

Raio de energia disperso na matéria, ele sabe que está ligado com todos os outros a um único Sol. 

Trata-se, então, de caminhar, de continuar peregrino, de introduzir na opacidade da noite o andante do dia…

A oração do coração suplica que se derramem sobre todos, as duas grandes energias ou manifestações do Pai Uno. 

Vem Senhor Jesus! Envia Teu espírito para que a Terra seja renovada! 

Quem é Jean-Yves Leloup?

Sua jornada de vida de 1950 até hoje

Jean Yves Leloup nasceu em 24 de janeiro de 1950 em Angers, onde viveu uma infância e adolescência difíceis.

Após uma “desregulação lenta de todos os sentidos”, ele foi descoberto em uma vala em Istambul e declarado clinicamente morto. 

Foi um momento decisivo para ele. Uma vez revivido e restaurado, ele desenvolveu um interesse nas experiências do despertar, das quais os espirituais de diferentes religiões testemunham. Ele reconhece isso como um eco do que encontrou nesse estado de coma profundo. 

Ele, então, foi para o Monte Athos, onde foi batizado e iniciado na tradição cristã ortodoxa e na prática da meditação hesicasta.

De volta à França, ele entrou na ordem dominicana em Toulouse para continuar seus estudos em patrologia e teologia. Em Tolouse foi ordenado sacerdote em 1978. 

Foi como parte de seus estudos com os dominicanos que, depois da Universidade de Toulouse, ele trabalhou na Universidade de Estrasburgo, sob a supervisão do professor J. Ménard. 

Interessado na Biblioteca de Nag Hammadi, publicou seus primeiros trabalhos: o Evangelium veritatis (Jung codex), o Evangelho de Tomé, depois o Evangelho de Maria e o Evangelho de Filipe. Foi também durante sua estada em Estrasburgo, que ele desenvolveu seu conhecimento dos místicos da Renânia (região norte da Alemanha), como Eckhart, Tauler, Suzo e conheceu Graf Durckheim. Ele foi treinado no que chama de “psicoterapia iniciática”. 

Nomeado assistente de pesquisa da Universidade de Nova York (Universidade de Syracuse), ele participou com o professor Huston Smith e Ken Wilber, em uma ampla divulgação da Philosophia Perennis nos Estados Unidos. 

Com o professor David Miller, ele tornou o mundo do imaginário mais conhecido como foi transmitido por Henri Corbin. 

Ele também colaborou em vários projetos cinematográficos da M. Productions. Foi em Los Angeles que ele descobriu as diferentes psicologias transpessoais, Charles Tart, Stanley Krippner.

Foi então professor de filosofia na escola/universidade francesa de Los Angeles. Durante seu tempo de lazer, ele conheceu Krisnamurti, Swami Muktananda, Gurumayi, mestre zen Maezumi Roshi e outras figuras religiosas e espirituais.

Chamado na França pela ordem dominicana, ele procurou o padre Maillard e Bernard Rérolle, no Centro Internacional de Sainte Baume. Foi lá que ele fundou o Instituto para o Encontro e Estudo das Civilizações e organizou numerosos simpósios cuja memória é mantida nos anais das edições do Open. E. Lévinas, A. Abécassis, Professor Keller, A. Desjardins, M. M. Davy e A. Chouraqui.

Lá, ele também organizou o primeiro colóquio sobre psicologia transpessoal na França, com Pierre Weil, Anne Ancelin Schützenberger e um congresso em torno do trabalho de Karl Graf Durckheim.

Foi também em Sainte Baume que ele desenvolveu seu interesse em Maria Madalena e a presença do feminino na história do Cristianismo.

Suas reflexões sobre a dimensão sagrada da relação homem/mulher “à imagem de Deus” o levaram ao sacerdócio casado, como é reconhecido no Cristianismo ortodoxo, desde suas origens.

Ele foi recebido pelo Monsenhor Vigile da Igreja Ortodoxa Francesa, depois em comunhão com a igreja de seu batismo (russos fora das fronteiras). Hoje a EOF pertence à comunhão das igrejas ortodoxas ocidentais.

Durante vários cursos no Brasil (universidades de São Paulo, Brasília, Rio, etc.), ele criou com Pierre Weil, Monique Thoening e Roberto Crema, a primeira Universidade Holística Internacional – Unipaz. A partir de estudos, Pierre Weil recebeu o prêmio de Educação para a Paz pela Unesco, em 2000. Hoje, a Unipaz é uma rede viva de diferentes escolas, principalmente na América do Sul. 

Inspirado pelos terapeutas de Alexandria, ele também fundou em Brasília, o Colégio Internacional de Terapeutas – CIT,  que se desenvolve no continente americano e na Europa. 

Por meio de seus escritos, conferências e retiros, Leloup tornou conhecida no Brasil a tradição cristã ortodoxa e inspirou a criação de vários centros de meditação hesitacaste.

Hoje, sem sincretismo e sectarismo, ele continua transmitindo um ensinamento profundamente enraizado no Cristianismo e aberto às grandes tradições espirituais da humanidade. 

Atualmente, Leloup está aprofundando a prática da anamnese essencial, como forma de curar e despertar. Ele considera a filocália e o hesicasmo – os frutos da meditação hesicaste – como o objetivo da experiência humana. Ele observa a possível influência em diferentes formas de ecologias ou ecosofias.

Professor visitante da Universidade de Estrasburgo, ele participa do programa: “medicina, meditação e neurociência”. Ele continua esse trabalho de transmissão através do ensino on-line e de seus escritos, cujas traduções para vários idiomas mostram reconhecimento internacional.

Fonte: https://elearning.jeanyvesleloup.eu/pages/biographie

Sobre a criação de um CIT

Concebido na França, em 22 de julho de 1990, por Jean-Yves Leloup, inspirado no espírito de Philon e dos Terapeutas da Alexandria, o Colégio Internacional dos Terapeutas (CIT) foi fundado em Brasília, na Universidade Internacional da Paz (Unipaz) da Fundação Cidade da Paz, no dia 8 de setembro de 1992.

O CIT-Brasil faz parte da Rede Unipaz, como organismo complementar, e estende-se pelas diferentes unidades nacionais e internacionais da Unipaz.

Em outros lugares do mundo, o CIT foi criado por Jean-Yves Leloup, como uma rede não formal, reunindo terapeutas de diferentes orientações, partilhando a antropologia, a Cosmologia e a ética, praticadas e vivenciadas na Unipaz.

Identificamos algumas alternativas, como possibilidade do CIT no mundo:

  • A Rede CIT existe sem a presença da Unipaz. Neste caso, o CIT buscará todas as informações necessárias, a fim de integrar a formação proposta pela Unipaz, fundando, então, uma unidade da Unipaz, onde haja, pelo menos, a formação de “A Arte de Viver em Paz”.
  • A Unipaz existe sem a presença da Rede do CIT. Neste caso, a Unipaz aplicará as normas e princípios existentes no CIT-Brasil e criará a Rede do CIT.
  • Aliança Unipaz-CIT em que a Unipaz existe com a presença da Rede CIT. Neste caso, os dirigentes dos dois organismos nacionais entram num acordo, para atuar sob o modelo do CIT brasileiro, com as necessárias adaptações.

Assinam esse documento:

Jean-Yves Leloup (Pelo CIT Internacional)

Pierre Weil (Pela UNIPAZ)

Roberto Crema (Pelo CIT-Brasil)

Salvador, Rio – Vôo da Varig, 11 de outubro de 2000

Coleção Unipaz-CIT

Coordenação de Pierre Weil e Roberto Crema

Editora Vozes

A Coleção Unipaz-CIT consiste de uma reunião dos textos, pesquisas e testemunhos úteis a uma compreensão superior e vasta do homem e do universo, para sua saúde e seu bem-estar.

Esta Coleção é transdisciplinar e faz apelo a escritores, pesquisadores, médicos, físicos e é inspirada pela antropologia não-dualística, pela ética rigorosa e aberta, pela prática da meditação do Colégio Internacional dos Terapeutas, cujas raízes remontam ao século I de nossa era, através dos Terapeutas de Alexandria, dos quais Fílon nos traz o Espírito, a Visão e os Procedimentos, próximos das pesquisas contemporâneas de ponta.

Assim, esta Coleção é um local de diálogos, de encontros e de alianças, frutuosas entre a tradição e a contemporaneidade.

Ela situa-se igualmente na linha de pesquisa da psicologia transpessoal (cf. Coleção Psicologia Transpessoal) e do paradigma holístico, da qual ela é uma das aplicações concretas no mundo dos terapeutas e nos cuidados que todo homem deve ter em relação ao Ser, em todas as suas dimensões: incriada, cósmica, social, consciente e inconsciente.

Títulos (ordem de publicação)

Cuidar do Ser;

Caminhos da Realização;

O Espírito na Saúde;

Terapeutas do Deserto;

O Evangelho de Tomé;

Caminhos da Cura;

O Corpo e Seus Símbolos;

O Evangelho de Maria;

Deserto, Desertos;

A Arte de Morrer;

Palavras da Fonte;

O Evangelho de João;

Carência e Plenitude;

Sinais de Esperança;

Além da Luz e da Sombra

Antigos e Novos Terapeutas;

A Montanha no Oceano;

Uma Arte de Amar para os Nossos Tempos;

Enraizamento e Abertura

Apocalipse – Clamores da Revelação;

Viver com Sentido;

Escritos sobre o Hesicasmo;

Introdução aos “Verdadeiros Filósofos”;

Livro das Bem-Aventuranças e do Pai-Nosso;

Rumo ao Infinito;

Entre Meditação e Psicoterapia;

O Evangelho de Felipe;

O Essencial no Amor;

Judas e Jesus: duas faces de uma única revelação;

Jesus e Maria Madalena – Para os puros tudo é puro;

Uma Arte de Cuidar – Estilo Alexandrino

Pedagogia Iniciática – Uma Escola de Liderança.

O homem holístico: a unidade mente-natureza

Os caminhos para a saúde – Integração mente e corpo

Normose, a patologia da normalidade

Dimensões do Cuidar – Uma visão integral